terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A Voz Do Silêncio

Marta Medeiros

- Pior do que a voz que cala, é um silêncio que fala.
Simples, rápido!
E quanta força!
Imediatamente me veio à cabeça situações em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois você sabe,
o silêncio não é dado a amenidades.

Um telefone mudo
Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.
Silêncios que falam sobre desinteresse,esquecimento, recusas.
Quantas coisas são ditas na quietude,depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo,nem uma gargalhadapara acabar com o clima de tensão.
Só ele permanece imutável,o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisasque a gente não quer ouvir,
pois ao menos as palavras que são ditas indicam uma tentativa de entendimento.
Cordas vocais em funcionamentoarticulam argumentos,expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planosque não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica,ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa, mas não fica aí parado me olhando!"
É o silêncio de um, mandando más notíciaspara o desespero do outro.

É claro que há muitas situaçõesem que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha com uma britadeira na rua,o silêncio é um bálsamo.
Para a professora de uma creche,o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock,o silêncio é um sonho.
Mesmo no amor,quando a relação é sólida e madura,o silêncio a dois não incomoda, pois é o silêncio da paz.
O único silêncio que perturba,é aquele que fala.
E fala alto.
É quando ninguém bate à nossa porta, não há emails na caixa de entrada
não há recados na secretária eletrônica
e mesmo assim, você entende a mensagem.

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